Articulação lógico-epistêmica no método teológico

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Em outro artigo sublinhei a necessidade de se adotar um primeiro princípio correto a fim de se estruturar uma cosmovisão ou teologia verdadeira. Também foram elencados os requisitos para que a afirmação deste primeiro princípio seja filosoficamente válida e, finalmente, constatamos que só a Escritura, como revelação proposicional de Deus, pode ser considerada um adequado primeiro princípio.

Neste artigo será abordada a natureza de uma correta articulação lógico-epistêmica, ou seja, a maneira correta de se empregar a lógica e a teoria do conhecimento, em relação indissolúvel uma com a outra, para construir um sistema de pensamento ou teologia.

Todo sistema pode ser estruturado a partir de uma lógica indutiva ou dedutiva.

Lógica indutiva
A lógica indutiva estabelece conclusões universais a partir de premissas particulares. Tome o seguinte argumento como exemplo:

De uma caixa foi retirada uma bola branca;
Da mesma caixa foi retirada outra bola branca;
Da mesma caixa foi retirada outra bola branca;
[...]
Logo, todas as bolas naquela caixa são brancas.

Este argumento mostra uma afirmação de verdade universal ("todas as bolas presentes na caixa são brancas") concluída a partir de constatações particulares, via de regra obtidas mediante observação ("da mesma caixa foi retirada mais uma bola branca...").

O que deve ser pontuado aqui é a natureza essencialmente falaciosa de toda lógica indutiva. Uma falácia é um silogismo inválido e o silogismo indutivo é logicamente inválido porque sua conclusão NÃO DERIVA DAS PREMISSAS.

Observando o exemplo acima, vemos que a afirmação de que todas as bolas naquela caixa são brancas não parte das premissas visto que não foi cada espécime de bola, exaustivamente, investigado para se concluir tal afirmação. Supondo que exista apenas uma bola amarela dentro daquela caixa com 10.000 bolas brancas e toda a verdade de que todas as bolas naquela caixa são brancas é imediatamente desconstruída. A não ser que se saiba de antemão, por meio de alguma "visão onisciente", que todas as bolas dentro da caixa são brancas, não é possível estabelecer, logicamente, nem mesmo que de dentro da caixa, em certo momento, não sairá um quadrado, um triângulo, uma lata de Coca-Cola ou uma serpente. De fato, existe um número literalmente INFINITO de possibilidades entre o "...da mesma caixa foi retirada outra bola branca" e a conclusão "todas as bolas naquela caixa são brancas". Um número infinito.

A lógica indutiva, assim, produz uma afirmação universal cujo conteúdo não é derivado das premissas e, portanto, é sempre falaciosa.

Lógica dedutiva
Por sua vez, a lógica dedutiva estabelece conclusões particulares a partir de premissas universais. Veja o seguinte exemplo:

A caixa "x" contém exclusivamente 10.000 bolas brancas;
Foi retirado um objeto da caixa "x";
Este objeto é uma bola branca.

A característica principal da lógica dedutiva é que sua conclusão realmente deriva das premissas. Uma premissa universal é fixada de antemão ("A caixa 'x' contém exclusivamente 10.000 bolas brancas") e, a partir de sua universalidade, qualquer conclusão particular dela extraída formalmente, por força lógica, será verdadeira. Além disso, o conteúdo das conclusões particulares extraídas de verdades universais nunca é novo ou apresenta informações novas, mas tão somente reproduz o que foi determinado antes por uma "onisciência" que estabeleceu uma primeira verdade universal, de forma axaustiva e inegociável.

A lógica indutiva é falaciosa. A lógica dedutiva não. O pensamento indutivo é falacioso. O pensamento dedutivo não. É óbvio, portanto, que um sistema de pensamento ou teologia deve ser estruturado mediante uma articulação lógico-epistêmica dedutiva, ao invés de indutiva. Somente dessa maneira um sistema de pensamento, cosmovisão ou teologia - termos intercambiáveis - pode ser reivindicado verdadeiro.

E de que maneira uma articulação lógico-epistêmica pode ser reivindicada no método teológico para a afirmação de um cristianismo autêntico?

Se uma lógica e um conhecimento, para serem verdadeiros, precisam ser edificados por vias dedutivas, é necessário que o primeiro princípio do qual todo o sistema derivará seja, além de coerente e amplo, auto-justificador. Na origem desses requisitos jaz a qualidade revelada da Bíblia. E uma vez que a Escritura Sagrada, como Palavra de Deus, preenche estes requisitos atendendo às qualificações necessárias, todo o processo lógico-epistêmico terá como a premissa número um - o primeiro princípio - a Bíblia, e a partir dela todo o processo será construído dedutivamente.

A Escritura, por ser revelação especial, é coerente, auto-justificadora e abrangente. E pode, com efeito, ser adotada como primeiro princípio porque a onisciência necessária para a formulação inicial em um processo dedutivo lhe é intrínseca.

Concluimos que o cristianismo é um sistema de pensamento perfeito e filosoficamente impenetrável, visto que seu método compreende a afirmação de um primeiro princípio completo e uma articulação lógico-epistêmica capaz de concluir a verdade. Daí, tudo o que o cristianismo afirmar, tendo sido corretamente extraído da Bíblia mediante uma articulação lógico-epistêmica dedutiva, é verdadeiro e digno de plena confiança.

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