É a África vítima do imperialismo europeu?
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Simpatizantes do pensamento de esquerda encontram no imperialismo europeu de séculos atrás e em sua suposta correlação no alcance do poder norte-americano a razão de todos os males. Isso é assim pela facilidade de se atribuir culpa histérica a um terceiro enquanto isentam-se os responsáveis pelo próprio fracasso e, ao mesmo tempo, cria-se um hospedeiro do qual se possa exigir ressarcimento na ordem de perpetuar o vitimismo inerte e lucrativo tão característico das mentes revolucionárias.
Sobre isso, o presente artigo, totalmente amparado no Guia Politicamente Incorreto da História do Mundo, de Leandro Narloch [1], desmente a famigerada ladainha de que todos os problemas africanos foram originados pela ação européia naquele continente, isto é, de que "os países europeus teriam sabotado o continente ao saquear suas riquezas, como marfim, diamante e ouro".
Ora, como é evidente aos que mantém o menor nível de percepção crítica, as coisas não são simples assim. Os seguintes argumentos elencados por Narloch no capítulo África de seu livro expõem a verdade de que os problemas africanos têm origem ... africana!
1. "Guerras entre nações rivais e disputas pela sucessão de tronos existiam muito antes de os europeus aparecerem no litoral ou atingirem o interior da África. Em quase todas as culturas nômades, a guerra a grupos inimigos e o ataque a povoados sedentários fazem parte da ordem natural das coisas. Em boa parte da África subsaariana, a África negra, secas prolongadas e crises de fome provocavam invasões, disputas por territórios e grandes migrações. Bem antes da chegada dos europeus, ataques com o objetivo de arrebanhar escravos eram comuns - havia um intenso mercado de escravos para os árabes, por rotas que atravessavam o Saara. No meio dessas rivalidades, o domínio de um império teve um efeito pacificador. 'Por meio de sua pax, os impérios fornecem o bem público mais básico - a ordem - numa sociedade internacional anárquica', afirma o historiador e economista indiano Deepak Lal.".
2. "É uma enorme simplificação dizer que as fronteiras foram criadas de forma aleatória pelos países europeus. Depois de acordos internacionais, comissões demarcatórias iam à campo apurar possíveis problemas [...]", e muitas vezes mudavam o traçado combinado para atender as solicitações de chefes tribais, segundo prova muitos registros históricos.
3. De fato, "Graves conflitos étnicos aconteceram justamente em países que tiveram suas fronteiras mantidas pelos acordos europeus". Por exemplo, esse respeito à fronteira tradicional "não impediu que os hutus de Ruanda matassem 800 mil tútsis, a golpes de facão, granadas e tiros de AK-47, em três meses de 1994". Conclusão: os sangrentos conflitos étnicos na África nada têm a ver com as fronteiras criadas pelos europeus; antes, têm a ver com a própria incapacidade dos povos africanos de conviverem em paz.
4. Aliás, a experiência mostra que, se há boa vontade por parte de determinado povo, é plenamente possível que ele consiga conviver em paz com outros povos radicalmente diferentes em uma região muito próxima. "Em muitos países [...], pessoas de etnias, de religiões e de línguas diferentes convivem juntas. Espanhóis castelhanos, galegos e catalões; belgas flamengos e valões; canadenses franceses e ingleses podem não morrer de amares entre si, mas o máximo que costumam fazer é trocar olhares de antipatia ou mover campanhas civilizadas de separatismo".
5. "O maior argumento contra a teoria das fronteiras tem mais de 1 milhão de quilômetros quadrados. Trata-se da Etiópia, o único país africano que não foi colonizado pelos europeus". Após fracassadas tentativas de invasão, a Itália não foi capaz de colonizar a Etiópia, que continuou governada pelo imperador Hailé Selassié, que, em 1974, "foi deposto por um grupo que somava tudo o que há de pior: intelectuais marxistas, revolucionários e militares. Havia décadas, um conjunto influente de pensadores etíopes defendia que, para modernizar o país, era preciso acabar com a tradição da monarquia. Seduzidos pela teoria de Lênin, segundo a qual intelectuais devem formar as elites de vanguarda e organizar as massas para a revolução, eles se atribuíam uma 'superioridade moral que os colocava acima da prestação de contas com o povo'. Ao invadirem o palácio do imperador, asfixiaram Selassié com um travesseiro e enterraram seu cadáver atrás de uma latrina no jardim do palácio.
No lugar do mítico imperador etíope, assumiu um amigo de Fidel Castro - Mengistu Hailé Mariam -, que passou a governar sob consultoria da KGB e da Stasi, a polícia secreta da Alemanha Oriental. A União Soviética, com a ideia de aproveitar a oportunidade da descolonização e formar uma federação comunista no Chifre da África, passou a armar o exército etíope. [...] Vencidas as batalhas contra os territórios vizinhos, o governo [etíope] voltou sua força contra os próprios cidadãos, instituindo a execução sumária para contra-revolucionários. Bem ao estilo de Lênin, o governo pregava o terror vermelho e a morte de todos os dissidentes políticos. Meio milhão de etíopes, de acordo com a Anistia Internacional, morreram em dois anos por causa de perseguições políticas.".
Notas e referências
1. NARLOCH, Leandro. Guia politicamente incorreto da história do mundo. São Paulo: Leya, 2013.
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