Diante do [nem tão] atual cenário político e do crescente contraste de ideias no Brasil, muitos líderes cristãos, às vezes sinceros, têm dispendido energia denunciando a corrupção, a imoralidade, a violência e outros problemas nos quais o país está encharcado. Contudo, tais denúncias são, na melhor das hipóteses, ingênuas e, em todas as hipóteses, completamente inócuas.
A igreja não deve apenas denunciar a "corrupção" ou golpear ao vento termos abstratos sem as suas representações concretizadas em (I) pessoas, (II) estruturas de pensamento ou (III) filosofias políticas antagônicas ao cristianismo. O apóstolo João, em seus escritos, não disse para ficarmos bravinhos com o "erro" ou com a "mentira", mas denunciou ESPECIFICAMENTE o gnosticismo como estrutura de pensamento falsa e, mediante confrontação doutrinária com o cristianismo, o atacou e subjugou abertamente.
Condenar predicados reduzidos a ojerizas universais é uma atitude imoral, condenscendente e empática ao paganismo. Outras religiões, filosofias e cosmovisões também afirmam detestar o erro, a mentira e a corrupção! Mas o erro, a mentira e a corrupção não têm o mesmo significado para o cristianismo e para outras visões de mundo. Denunciar essas coisas sem atacá-las nominalmente é assumir comunhão com a proposta de uma "religião universal" que se baseia em slogans de alta adesão mas não possui a verdade salvadora.
Quando os líderes entenderão que a verdadeira relevância da igreja cristã solidifica-se justamente em sua parcialidade, em sua reivindicação de exclusividade, em sua voz profética "politicamente incorreta" e em sua RENÚNCIA a diluições doutrinais em troca da "paz" e da aceitação?
Pertencer à igreja é comprar o ticket para o ostracismo, para o vitupério e para o ódio do mundo. Pertencer à igreja é ser decapitado por declarar a verdade, como foi João Batista.
Você não gosta disso? Prefere ser bem visto e bem aceito? Prefere receber afagos por seu discurso? Prefere a "paz mundial"?
Tenho uma ideia: largue o cristianismo e, com todo o respeito, vire budista ou algo assim. O cristianismo não é para você.
Há algo de muito estranho na pedagogia sócio-construtivista ou, simplesmente, a pedagogia de Paulo Freire. Algo não parece certo.
Até algum tempo atrás, quando um professor ia ensinar alguma coisa, o pressuposto mais rudimentar adotado, mesmo que implicitamente, era o da existência de uma verdade absoluta e objetiva, a qual haveria deveria ser aquiescida pelos alunos. O segundo pressuposto fundamental era o de que o professor deveria saber mais sobre o assunto a ser ministrado do que seus alunos, e por isso era o professor quem o ministrava, o que nos leva ao terceiro pressuposto básico: se a verdade era objetiva e o professor era creditado como seu arauto, logo, a aula consistia na transmissão deste conhecimento, do professor aos alunos. E ninguém ficava tristinho ou se sentia oprimido.
Hoje, esse modelo pedagógico não é apenas considerado anacrônico, mas rude, opressor e arrogante. Hoje, a síntese da teoria pedagógica é a de que o conhecimento é subjetivo e, portanto, o trabalho de um professor não é ensinar algo a qualquer pessoa - tal empreitada o transformaria em um saudosista do escolasticismo medieval - , mas auxiliar seus interlocutores a encontrar a verdade por si mesmos por meio de seu contato com o mundo e pela suposição falaciosa de que o método indutivo pode produzir conhecimento. Hoje, a pedagogia adotada é a de Paulo Freire e seu método é o sócio-construtivismo.
Eu me pergunto se Pedro, em seu discurso de Atos 3, deveria ter empregado a pedagogia de Paulo Freire e, ao invés de declarar verdades e ainda chamar ao arrependimento seus ouvintes, sentar-se com eles em uma roda (para quem sabe amenizar visualmente a hierarquia do conhecimento) e perguntar como cada um de seus ouvintes se sentia em relação à possibilidade de arrependimento diante do Deus Santo.
Também me questiono se João adotou a pedagogia correta quando disse que a comunhão para com Deus só seria possível caso seus ouvintes adotassem exatamente o seu ensino (1Jo 1.3). Talvez João devesse ter enfatizado a dimensão social do aprendizado, deixando que o contato com o meio produzisse nos seus ouvintes toda a informação bíblica necessária para a salvação.
Jesus, por sua vez, talvez tivesse outra coisa em mente quando orientou seus discípulos a pregar o evangelho e formar mais discípulos ensinando-lhes tudo o que deveriam saber acerca da doutrina cristã (Mt 28). Para os parâmetros hodiernos, os pressupostos pedagógicos de Jesus são, de fato, indigestos.
Portanto, é evidente que a Escritura defende um modelo pedagógico com premissas muito bem delineadas. Conquanto um professor realmente detenha a verdade sobre certo nicho de conhecimento, segundo a graça e a capacitação de Deus recebida, ele realmente detém esta verdade e deve transmiti-la a seus alunos. Estes, por sua vez, carecem do conhecimento que seu professor intenta transmitir. Este conhecimento é objetivo, absoluto e transmitido em uma linha que vai do professor ao aluno. Esta é a pedagogia bíblica.
Imagine, assim, se o evangelismo e o discipulado fossem orientados segundo o sócio-construtivismo: NENHUM conhecimento seria transmitido e nenhum discípulo, ao menos do cristianismo verdadeiro, seria formado. E isso em nome das premissas politicamente corretas da renúncia da autoridade e da reivindicação da verdade sobre determinado assunto.
A ideia de que a "verdade" ou conhecimento está em cada um de nós e de que precisamos apenas da intermediação de um "guia" a fim de descobri-la por nós mesmos pode parecer piedosa e sábia, e sem dúvida ela está em voga, mas não é verdadeira. Pode soar exótica e interessante, com ares de ying yang e sabedoria milenar, mas oculta uma disposição carnal, rebelde e bastante estúpida. Não é esta pedagogia que a Bíblia nos orienta a adotarmos.
Alguns poderiam argumentar, com base em Romanos 2.15 e outros, que, a verdade, com efeito, está em cada um de nós e, assim, reivindicar a validade do sócio-construtivismo. Mas embora seja verdadeiro que o homem porte, inerentemente, conteúdo proposicional, informações e categorias de verdade, é igualmente factual que ele as nega em virtude de sua corrupção e, negando a Deus, destrói a possibilidade de conhecimento (Rm 1.21,22).
Assim, precisamos não de um "guia", mas de um legítimo porta-voz. Precisamos ser ensinados. Precisamos de conteúdo externo e de verdades que não conheceríamos se algum professor não as trouxesse. Precisamos enterrar o método de Paulo Freire, com suas premissas marxistas, e adotar os pressupostos pedagógicos legitimados pela Escritura.
Neste artigo será abordada a natureza de uma correta articulação lógico-epistêmica, ou seja, a maneira correta de se empregar a lógica e a teoria do conhecimento, em relação indissolúvel uma com a outra, para construir um sistema de pensamento ou teologia.
Todo sistema pode ser estruturado a partir de uma lógica indutiva ou dedutiva.
Lógica indutiva
A lógica indutiva estabelece conclusões universais a partir de premissas particulares. Tome o seguinte argumento como exemplo:
De uma caixa foi retirada uma bola branca;
Da mesma caixa foi retirada outra bola branca;
Da mesma caixa foi retirada outra bola branca;
[...]
Logo, todas as bolas naquela caixa são brancas.
Este argumento mostra uma afirmação de verdade universal ("todas as bolas presentes na caixa são brancas") concluída a partir de constatações particulares, via de regra obtidas mediante observação ("da mesma caixa foi retirada mais uma bola branca...").
O que deve ser pontuado aqui é a natureza essencialmente falaciosa de toda lógica indutiva. Uma falácia é um silogismo inválido e o silogismo indutivo é logicamente inválido porque sua conclusão NÃO DERIVA DAS PREMISSAS.
Observando o exemplo acima, vemos que a afirmação de que todas as bolas naquela caixa são brancas não parte das premissas visto que não foi cada espécime de bola, exaustivamente, investigado para se concluir tal afirmação. Supondo que exista apenas uma bola amarela dentro daquela caixa com 10.000 bolas brancas e toda a verdade de que todas as bolas naquela caixa são brancas é imediatamente desconstruída. A não ser que se saiba de antemão, por meio de alguma "visão onisciente", que todas as bolas dentro da caixa são brancas, não é possível estabelecer, logicamente, nem mesmo que de dentro da caixa, em certo momento, não sairá um quadrado, um triângulo, uma lata de Coca-Cola ou uma serpente. De fato, existe um número literalmente INFINITO de possibilidades entre o "...da mesma caixa foi retirada outra bola branca" e a conclusão "todas as bolas naquela caixa são brancas". Um número infinito.
A lógica indutiva, assim, produz uma afirmação universal cujo conteúdo não é derivado das premissas e, portanto, é sempre falaciosa.
Lógica dedutiva
Por sua vez, a lógica dedutiva estabelece conclusões particulares a partir de premissas universais. Veja o seguinte exemplo:
A caixa "x" contém exclusivamente 10.000 bolas brancas;
Foi retirado um objeto da caixa "x";
Este objeto é uma bola branca.
A característica principal da lógica dedutiva é que sua conclusão realmente deriva das premissas. Uma premissa universal é fixada de antemão ("A caixa 'x' contém exclusivamente 10.000 bolas brancas") e, a partir de sua universalidade, qualquer conclusão particular dela extraída formalmente, por força lógica, será verdadeira. Além disso, o conteúdo das conclusões particulares extraídas de verdades universais nunca é novo ou apresenta informações novas, mas tão somente reproduz o que foi determinado antes por uma "onisciência" que estabeleceu uma primeira verdade universal, de forma axaustiva e inegociável.
A lógica indutiva é falaciosa. A lógica dedutiva não. O pensamento indutivo é falacioso. O pensamento dedutivo não. É óbvio, portanto, que um sistema de pensamento ou teologia deve ser estruturado mediante uma articulação lógico-epistêmica dedutiva, ao invés de indutiva. Somente dessa maneira um sistema de pensamento, cosmovisão ou teologia - termos intercambiáveis - pode ser reivindicado verdadeiro.
E de que maneira uma articulação lógico-epistêmica pode ser reivindicada no método teológico para a afirmação de um cristianismo autêntico?
Se uma lógica e um conhecimento, para serem verdadeiros, precisam ser edificados por vias dedutivas, é necessário que o primeiro princípio do qual todo o sistema derivará seja, além de coerente e amplo, auto-justificador. Na origem desses requisitos jaz a qualidade revelada da Bíblia. E uma vez que a Escritura Sagrada, como Palavra de Deus, preenche estes requisitos atendendo às qualificações necessárias, todo o processo lógico-epistêmico terá como a premissa número um - o primeiro princípio - a Bíblia, e a partir dela todo o processo será construído dedutivamente.
A Escritura, por ser revelação especial, é coerente, auto-justificadora e abrangente. E pode, com efeito, ser adotada como primeiro princípio porque a onisciência necessária para a formulação inicial em um processo dedutivo lhe é intrínseca.
Concluimos que o cristianismo é um sistema de pensamento perfeito e filosoficamente impenetrável, visto que seu método compreende a afirmação de um primeiro princípio completo e uma articulação lógico-epistêmica capaz de concluir a verdade. Daí, tudo o que o cristianismo afirmar, tendo sido corretamente extraído da Bíblia mediante uma articulação lógico-epistêmica dedutiva, é verdadeiro e digno de plena confiança.