Apologética, no cristianismo, é aquela disciplina da Teologia/Filosofia que estuda como deve ser o desenvolvimento de uma argumentação em favor da fé cristã. E a apologética evidencialista é o braço desta disciplina que busca evidências da existência de Deus na natureza e no homem na ordem de estruturar uma apologia contra o interlocutor descrente.
A mera existência da disciplina "apologética cristã" é questionável por razões que não cabem neste artigo, mas supondo que exista, de fato, uma apologética, gostaria de apontar duas razões pelas quais ela não deva ser pensada ou articulada nos moldes da evidencialista.
Em primeiro lugar, a apologética evidencialista é ou tende a ser uma apologética idólatra. O método evidencialista busca evidências e argumentos filosóficos, às vezes em diálogo com as ciências naturais (geografia, geologia, etc.), para provar ao público ateu a existência de um deus criador. E aqui reside o problema: o Deus da Escritura não é "um deus", mas sim o Deus de Israel, o Deus cujo nome é YHWH e cuja mais perfeita revelação se deu em Jesus Cristo, o Verbo que se fez carne e habitou entre nós. Enquanto a apologética evidencialista procura uma justificativa filosófica para apresentar a necessidade de um deus, o Deus bíblico sempre se apresentou de forma específica e nunca genericamente como "um deus". Na verdade, a Escritura deixa claro que defender a existência de qualquer deus que não seja o verdadeiro e específico Deus, é idolatria (c.f. At 17). "Qualquer deus" não é O Deus, e buscar um motivo intelectual como princípio para justificar brechas em sistemas filosóficos não indica a exaltação do Deus triúno revelado pelas Sagradas Escrituras.
Em suma, não existe razão bíblica para crermos que a simples afirmação de um "deus genérico", um "deus qualquer", que não seja especificamente o Deus triúno revelado em Jesus Cristo, consiste na apresentação e defesa da ideia sobre o verdadeiro Deus. Quando defendemos a ideia de um deus qualquer, cujo pódium pode ser ocupado por qualquer entidade, com qualquer nome, apresentamos ao interlocutor um ídolo, e não o Deus bíblico.
Em segundo lugar, o método evidencialista pressupõe uma epistemologia que parece ignorar a doutrina da depravação total do homem. O ensino bíblico da depravação total mostra que o homem caído, o homem natural ou "carnal" (no linguajar paulino), está não apenas alheio ao Deus verdadeiro, mas O odeia em rebeldia. O homem natural tem todas as suas faculdades maculadas pelo pecado. Sua inteligência, moralidade e arbítrio subsistem em absoluta disfunção, em rebeldia ao Deus que o criou. Assim, a razão do homem caído não é religiosamente neutra, com capacidade para operar livremente abstendo-se de pressupostos ou em latente objetividade. Ao contrário, a razão do homem caído constroi cada um de seus pensamentos com pressupostos ateístas e rebeldes. O homem natural não aceita as coisas do Espírito (1Co 2.14).
Portanto, se o ser humano caído não possui neutralidade racional, as chamadas "evidências" da apologética evidencialista não lhe provarão absolutamente nada. O homem morto em seus pecados (Ef 2.1) não tem capacidade para analisar objetivamente qualquer argumento ou evidência, por mais persuasivos que sejam. Nas operações mentais do homem natural, todas as evidências do mundo serão distorcidas e manipuladas. O homem natural, mesmo tendo a evidência de Deus diante de sua face, substitui a verdade pela mentira (Rm 1.25).
Por essas razões eu não creio que a apologética evidencialista seja um método eficiente de apologética, nem que seja biblicamente respaldado. Os crentes que gostam do método evidencialista de apologética deveriam repensar sua utilização.