Flávio Bolsonaro e sua renúncia em apontar o óbvio: Baixa Cultura chama-se baixa porque ... é baixa!

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Na última sexta-feira, dia 23, Flávio Bolsonaro, candidato à prefeitura do Rio de Janeiro, participou de uma entrevista com as apresentadoras Mariana Gross e Ana Luiza Guimarães, da RJTV [1], na qual foi maliciosamente questionado sobre temas de grande relevância para a agenda esquerdista.

Deixando de lado uma análise pormenorizada sobre as tacanhas perguntas elaboradas pelas entrevistadoras, e deixando de lado as inúmeras brechas que poderiam ser aproveitadas pelo candidato para desmoralizá-las com respostas que as expusessem em sua abjeta visão de mundo, algo de suma importância ficou patente: a constrangedora [e certamente falsa] neutralidade de Flávio Bolsonaro ao responder sobre o tema da cultura. Explico.

Em dado momento, a entrevistadora direcionou o diálogo para o tópico da cultura e Flávio, expondo a necessidade de fomentar a Alta Cultura na cidade do Rio de Janeiro (necessidade indiscutível, diga-se, e não apenas no Rio), foi, em seguida, inquirido pela boçal Mariana Gross sobre a possibilidade de sua declaração acerca de uma Alta Cultura não subentender a existência de uma Baixa Cultura e, por extensão, de uma hierarquia de valores estéticos que poderia ofender os adeptos de uma cultura mais pobre.

Veja o trecho da entrevista:

Mariana: Candidato, só para gente entender. No seu governo, o senhor diz que existe alta cultura. Então, faz acreditar que exista média cultura...

Flávio: Isso são concertos...

Mariana: E baixa cultura.

Flávio: Não...

Mariana: Se tem alta, tem baixa, tem média. Então pergunto para o senhor: o que é média cultura?

Neste ponto, Flávio, nitidamente acuado, começa a se embrenhar em suas respostas em uma triste tentativa de evitar a conclusão da existência de uma cultura inferior:

Flávio: Não tem esse escalonamento, Mariana. A alta cultura a que eu tô me referindo...

Mariana: Não? Então baixa, baixa cultura?

Flávio: São eventos de música, de teatro, que a gente tem de trazer de volta para o nosso calendário permanente.

Mariana: Tá, essa é a alta. E a baixa cultura?

Flávio: Não é baixa cultura. É a cultura mais popular que se diferencia disso.

Mariana: A cultura popular é mais baixa, é isso?

Flávio: Olha só, Mariana, não é você querer fazer uma descriminação do evento de música, de orquestra sinfônica...

Mariana: Candidato, a cidade tão rica culturalmente, o senhor usar essa nomenclatura, usar alta cultura...

Flávio: Eu quero levar cultura para lá.

Mariana: Não é de forma elitizar?

Flávio: Elitizar? Pelo contrário. Eu quero mesclar. Eu quero que as pessoas mais carentes, os estudantes de escolas públicas conheçam essa cultura, essa alta cultura a que eles não tenham acesso. Só que tem dinheiro tem acesso. É disso que eu tô falando.

Pois bem...

Que bela oportunidade Flávio perdeu de defender a existência objetiva de uma hierarquia de valores na cultura!

Honestamente, não podemos afirmar com certeza se Flávio Bolsonaro tem uma visão relativista sobre a cultura ou se ele apenas não quis ser assertivo em sua perspectiva absolutista e sofrer as consequências de um ataque midiático. Tendo a acreditar na segunda opção em virtude dos posicionamentos absolutistas de seu pai e irmãos sobre valores em outras esferas, como a ética, por exemplo. E se assim for, é realmente lamentável que Flávio, um dos raros políticos de honra e valores conservadores existentes no Brasil, tenha se recusado, por questão de opinião pública (leia-se "opinião esquerdista"), a estampar o óbvio e, ao mesmo tempo, levar o ônus da irracionalidade à sua entrevistadora.

Em outras palavras, Flávio poderia ter defendido com firmeza a ideia de Alta Cultura - que NADA tem a ver com "grandes eventos", mas que tem TUDO a ver com uma estética elevada, que reflete padrões universais e eternos de beleza - expondo a baixeza e o caráter grotesco das expressões culturais mais populares, como o funk carioca ou o sertanejo universitário [2], por exemplo.

Flávio, ainda que não recrutasse explicitamente argumentos teístas, poderia, mediante outras categorias, advogar a existência de uma Alta Cultura contrastando-a às expressões estéticas da matiz progressista, construída, literalmente, com excrementos, urina, vômito, imoralidade e ilustrações repugnantes que simbolizam propriamente sua cosmovisão.

Flávio poderia simplesmente obrigar Mariana a responder qual dos dois autores, Mozart ou Valesca Popozuda, produz obras de maior qualidade e escancarar, dessa maneira, a debilidade da entrevistadora e de todos os que empregam a subversão como vetor de premissas filosóficas.

Que bela oportunidade Flávio perdeu de acentuar o contraste entre si mesmo e seus oponentes na candidatura fazendo ressaltar exatamente aqueles predicados que o separam da esquerda.

A renúncia de Flávio em estampar o óbvio nos apela à guarda e à apologia dos princípios elementares e absolutos para a experiência humana transcendente: "[…] pois a grandeza e a beleza das criaturas fazem, por analogia, contemplar seu Autor" (Sb 13.5).


Notas e referências
1. G1. Flávio Bolsonaro é entrevistado um RJTV, 2016. Disponível em: <http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/eleicoes/noticia/2016/09/flavio-bolsonaro-e-entrevistado-no-rjtv.html>. Acesso em: 26 de set. 2016.

2. Estilos musicais que, além de exibirem uma técnica ridiculamente fraca, com suas letras banalizam o sexo e desvelam como modus vivendi ideal a mediocridade regada à cachaça. 

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